Tendo em vista as últimas notícias publicadas sobre um possível surto de casos de microcefalia, a Comissão de Ultrassonografia do Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem (CBR) gostaria de aclarar alguns pontos que podem ajudar no diagnóstico de possíveis casos de microcefalia.
Sobre a microcefalia
O diagnóstico da microcefalia intra-útero é feito quando a medida da circunferência cefálica (CC) é menor que 2 desvios padrões (DP) do limite inferior da curva de normalidade para a idade gestacional1.
Alguns outros trabalhos definem como microcefalia severa quando CC < -3DP(2-5). As medidas da CC obedecem uma distribuição normal. Sendo assim, é esperado que 2,3% da população geral sejam definidos como microcefálicos. Contudo, em trabalhos publicados mas utilizando o critério da CC < -2 DP, somente de 0,56% a 0,58% dos casos serão considerados realmente microcefalia6-7. E o diagnóstico de microcefalia em bebês que nascem com perímetro cefálico (PC) menor que o normal, que é habitualmente maior que 33 cm.
Importância da avaliação correta da CC
É preciso utilizar tabelas adequadas para Circunferência Cefálica (CC) que contemplem dados sobre desvio-padrão. O diagnóstico clássico para microcefalia é feito quando CC < -2DP, e alguns outros trabalhos classificam como microcefalia severa quando CC < -3DP.
O que fazer na suspeita de microcefalia?
Se, durante o exame de ultrassonografia, for encontrada uma medida da CC > -2DP, deve-se orientar a paciente realizar uma ultrassonografia morfológica do feto para verificar se existem outras alterações intra e extracranianas. Alguns trabalhos mostram que quando CC < -2DP.
Dependendo da idade gestacional, pode-se sugerir a coleta de líquido amniótico ou sangue fetal para pesquisa de infecções congênitas (toxoplamose, citomegalovírus, rubéola e zika vírus). Com esta recente associação de dois casos com infecção por zika vírus, está sendo recomendada a pesquisa específica para este vírus, mas não se pode excluir a possibilidade de outras causas.
Causas de microcefalia?
Orientações do Ministério da Saúde do Brasil
1. Acompanhe sua gestação com um médico, por meio de consultas pré-natais, e realize todos os exames recomendados por ele;
2. Não consuma bebidas alcoólicas ou qualquer tipo de drogas;
3. Não utilize medicamentos sem a orientação médica;
4. Evite contato com pessoas com febre, exantemas ou infecções;
5. Adote medidas que possam reduzir a presença de mosquitos transmissores de doenças, com a eliminação de criadouros (retire recipientes que tenham água parada e cubra adequadamente locais de armazenamento de água);
6. Proteja-se de mosquitos seguindo estas medidas: mantenha portas e janelas fechadas ou teladas; use calça e camisa de manga comprida; e utilize repelentes indicados para gestantes;
Até que se esclareçam as causas do aumento da incidência dos casos de microcefalia na região Nordeste, as mulheres que planejam engravidar devem conversar com a equipe de saúde de sua confiança.
Nesta consulta, devem avaliar as informações e riscos de sua gravidez para tomar a sua decisão.
Não há uma recomendação do Ministério da Saúde para evitar a gravidez. As informações estão sendo divulgadas conforme o andamento das investigações. A decisão de uma gestação é individual de cada mulher e sua família.
O Ministério da Saúde, em completa parceria com as secretarias estaduais e municipais de Saúde, continuará recebendo as ocorrências, dando apoio técnico e mantendo ativo o COES (Centro de Operações de Emergência em Saúde Pública) para o estudo, a investigação e a definição do agente causador do aumento da ocorrência de microcefalia9.
Referências Bibliográficas:
1. Sells CJ. Microcephaly in a normal school population. Pediatrics. 1977;59(2):262-5. Epub 1977/02/01.
2. Barkovich AJ, Ferriero DM, Barr RM, et al. Microlissencephaly: a heterogeneous malformation of cortical development. Neuropediatrics 1999;29:113–119.
3. Dobyns WB, Andermann E, Andermann F, et al. X-linked malformations of neuronal migration. Neurology 1996; 47:331–339.
4. Woods CG. Human microcephaly. Curr Opin Neurobiol 2004;14:112–117.
5. Jackson AP, Eastwood H, Bell SM, et al. Identification of microcephalin, a protein implicated in determining the size of the human brain. Am J Hum Genet 2002;71:136 –142.
6. Vargas JE, Allred EN, Leviton A, Holmes LB. Congenital microcephaly: phenotypic features in a consecutive sample of newborn infants. J Pediatr 2001;139:210 –214. 9.
7. Dolk H. The predictive value of microcephaly during the first year of life for mental retardation at seven years. Dev Med Child Neurol 1991;33:974 –983.
8. Menounou, A., Head Size: is it important?. Clinical Pediatric Neurology, A Signs and Symptoms Approach. Fourth edition, Gerald Fenichel, Saunders Publishers Ltd, 2001.